Ecos do Silêncio — Textos Zen


Os Dez Epítetos do Buddha

Thich Nhat Hanh


Diz-se que o Buddha tem dez nomes, e que cada um descreve uma qualidade auspiciosa. O primeiro, Tathagata, significa "aquele que chegou até nós através do caminho correto", "aquele que vem da maravilhosa realidade da vida e que voltar? a essa maravilhosa realidade" e "aquele que chegou do tal como é, permanece no tal como é e voltará ao tal como é". "Tal como é" [sânsc. tathata] é um termo buddhista que indica a verdadeira natureza das coisas, ou realidade suprema. É a substância ou essência da existência, assim como a água é a essência das ondas. À semelhança do Buddha, também procedemos desse tal como é, permanecemos nesse tal como é e voltaremos a esse tal como é. Não viemos de lugar nenhum e não lugar algum para onde se vá.

Um sutra buddhista nos diz que, quando as condições são suficientes, vemos as formas, e, quando elas não são suficientes, não vemos as formas. Quando todas as condições estão presentes, podemos perceber os fenômenos, e assim estes nos são revelados como existentes. Mas, quando uma dessas condições está ausente, não podemos perceber os mesmos fenômenos, de modo que eles não nos são revelados, e assim dizemos que não existem. Mas isso não é verdade. Em abril, por exemplo, não podemos ver girassóis ao redor de Plum Village, nossa comunidade no sudoeste da França, de modo que poderíamos dizer que os girassóis não existem. Mas os agricultores locais já plantaram milhares de sementes e, quando contemplam as colinas nuas, já vêem os girassóis. Eles estão presentes. Só lhes faltam as condições do sol, do calor, da chuva e do mês de julho. O fato de não conseguirmos vê-los não significa que não existem. Do mesmo modo, dizemos que o Tathagata não vem de lugar nenhum nem vai a lugar algum. Ele procede do espaço e do tempo supremos. Se você caminhar pelos campos perto de Plum Village em abril e pedir a eles que lhe revelem, a dimensão suprema da realidade, o Reino de Deus, os campos serão repentinamente cobertos por belos e dourados girassóis. Quando São Francisco olhos intensamente para uma amendoeira no inverno e pediu a ela que lhe falasse sobre Deus, a árvore cobriu-se instantaneamente de flores.

O segundo nome do Buddha é Arhat, "aquele que merece nosso respeito e nosso apoio". O terceiro é Samyaksambuddha, "aquele que é perfeitamente iluminado". O quarto é Vidyacharanasampana, "aquele que é contemplado com insight e conduta". O quinto é Sugata, "aquele que percorreu alegremente o caminho". O sexto é Lokavidu, "aquele que conhece bem o mundo". O sétimo é Anuttarapurusadamyasarathi, "o insuperável líder daqueles que serão treinados e ensinados". O oitavo é Sastadevamanushyanam, "mestre dos deuses e dos seres humanos". O nono é Buddha, "o iluminado". O décimo é Bhagavat, "o abençoado". Todas as vezes que nos refugiamos no Buddha, refugiamo-nos naqueles que possuem esses atributos, que estão situados no âmago da natureza humana. Siddhartha não é o único Buddha. Todos os seres no reino animal, vegetal e mineral são Buddhas em potencial. Todos encerramos essas dez qualidades de um Buddha na essência do nosso ser. Se pudermos realizar essas qualidades em nós mesmos, seremos respeitados e honrados por todas as pessoas.

(Nhat Hanh, Thich. Vivendo Buda, Vivendo Cristo. Coleção Arco do Tempo. Consultoria de Coleção de Alzira M. Cohen.
Introdução de Elaine Pagels; prefácio do Irmão David Steindl-Rast; tradução de Cláudia Gerpe Duarte.
Rio de Janeiro: Rocco, 1997. Pág. 58-60. Clique aqui para adquirir o livro.)


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