Ecos do Silêncio — Textos Zen


Kesa Kudoku

O Mérito de se Usar o Manto Buddhista


O manto, que é a evidência material da transmissão, foi autenticamente transmitido na China apenas na linha de Bodhidharma, o vigésimo oitavo ancestral.

Na Índia houve um total de vinte e oito transmissões até que chegou a vez de Bodhidharma, que levou bravamente esta transmissão à China. Na China seis ancestrais o transmitiram até Hui-neng, que se tornou assim o trigésimo terceiro ancestral após Mahakashyapa, e o sexto após Bodhidharma. Hui-neng venerou durante toda sua vida o manto que havia recebido à meia noite de seu Mestre Ta-man do Monte Huang-mei. Este manto se encontra no templo de Pao-li no Monte Ts'ao-ch'i. Em repetidas ocasiões, Imperadores requisitaram que fosse trazido à corte, onde enquanto se prosternavam ante a ele, faziam oferendas venerativas. Assim os Imperadores o protegiam como o tesouro mais precioso do país. 

Nada menos de três Imperadores da dinastia T'ang, Chung-tsung, Su-tsung e Tai-tsung, requisitaram reverentemente que o manto fosse trazido à corte para que pudessem venerá-lo devidamente. Ao fazerem o pedido de entrega e de devolução, os imperadores enviavam mensageiros Imperiais com seus éditos. Um destes éditos, do Imperador Tai-tsung, quando da devolução do manto a Ts'ao-ch'i, dizia o seguinte, "Devolvemos agora este manto devidamente protegido pelo General Liu Ch'ung-ching, comandante em chefe do Sexto Exército. Este é sem dúvida, o maior tesouro desta nação. Monges! Que seja devolvido ao templo de acordo com as regras estabelecidas pelo Buddha e que possa conduzir a todos ao coração da prática. Que seja extremamente protegido contra danos e perdas."

Os Imperadores que moram nesta ilha insignificante do Japão que tem capacidade de ver, ouvir ou fazer oferendas venerativas ao manto são capazes de levar comparativamente uma vida muito melhor que aqueles que reinam sobre continentes vastos como as areias do Ganges. Kesas, ou mantos buddhistas podem ser encontrados naquele local onde houver o ensinamento buddhista. Foi contudo apenas Bodhidharma, o primeiro ancestral chinês, que recebeu o grande manto transmitido diretamente de coração para coração pelos ancestrais hindus e foi ele também quem o transmitiu aos seus sucessores. Não houve outros ancestrais que tivessem esta história de vida além do espaço e do tempo. Para ilustrar este ponto, os ensinamentos do Venerável Buddhabhadra, um mestre Zen ligado ao vigésimo sétimo ancestral Prajnatara foram transmitidos a um monge chinês chamado Sung-chao. Não aconteceu entretanto uma transmissão de manto formal entre eles. Na China apesar do quarto ancestral ter transmitido o Dharma a Fa-jung do Monte Niu-t'o, ele não lhe legou um manto, o símbolo absolutamente mais precioso do buddhismo.

O mérito do Dharma de Buddha é eterno mesmo para aqueles que não tiveram um manto transmitido pelos ancestrais ortodoxos. Maior ainda é o mérito daquele a quem o Dharma e o manto buddhista foram corretamente transmitidos. Portanto, se existir alguém no céu ou na terra que deseje usar um manto deve usar aquele que foi corretamente transmitido pelos buddhas e ancestrais. Na Índia e na China, na era do buddhismo verdadeiro e formal, até mesmo leigos usavam um manto correto. Agora, no Japão que se encontra extremamente distanciado dos países acima citados e presentemente atravessa a era do buddhismo degenerado, até mesmo aquelas pessoas falsas que se parecem com monges, de cabeça raspada, nem usam nem sabem o que vem a ser este manto. Que lástima que não saibam porque se deve usar o manto e ainda mais que não conheçam as cores, o material ou tamanho do manto, ou a forma correta de coloca-lo.

Desde os primeiros tempos o manto tem sido chamado de "força da liberação." Ao colocá-lo, a pessoa automaticamente se torna capaz de se livrar de todo tipo de obstáculos com os quais se pode deparar durante o treinamento, isto é, os efeitos de suas más ações em existências presentes e passadas bem como de suas mentes de ilusão. Se um dragão obtiver até mesmo um pequeno fio que seja destes mantos, com isto ele se libera dos três sofrimentos que o afligem. Se um búfalo apenas o tocar de leve, com um só de seus chifres, seus males desaparecerão. Os vários buddhas não deixam, ao estarem prestes a se iluminar, de envergar o manto. Deve estar claro por agora que enorme é o mérito do manto buddhista. 

Que deveras lamentável que tenhamos nascido neste remoto cantinho do mundo, longe do centro do mundo, a Índia e a China e além disto com a infelicidade de nos encontrarmos na era do buddhismo degenerado! Por outro lado, temos aquela raríssima oportunidade de sermos capazes de obter a roupa do Buddha mesmo, transmitida até nós pelos ancestrais virtuosos como um símbolo vivo do Dharma mesma! Qual outra seita ou religião poderia ter um manto como o nosso? Quem não o veneraria, ao se deparar com ele. Devemos venera-lo respeitosamente mesmo que cada dia tenhamos que sacrificar nossas vidas repetidas vezes, tantas vezes quanto as areias do Ganges. Devemos ter a firme determinação de o venerar em qualquer mundo que seja e não importa em que geração o encontremos.

Vivemos agora no Japão, que está a léguas de distância da Índia, onde nasceu o príncipe Siddhartha. Contudo, em que pese a distância, podemos nos familiarizar com o Verdadeiro Caminho como resultado de nossas boas ações no passado, não sendo obstruídos em nosso amor nem por montanhas nem pelos oceanos nem mesmo por sermos ainda tão bárbaros e primitivos em nossa cultura em um lugar subdesenvolvido e esquecido pelo resto todo da humanidade. Somos capazes de praticar o Caminho dia e noite de todo corpo e alma, utilizando aquele manto que aceitamos reverentemente e que protegemos contra tudo o mais. 

Isto se dá não apenas por causa do mérito que obtivemos devido a nosso treinamento com um ou mais buddhas, mas muito mais ainda se deve ao mérito acumulado por nossas várias práticas sob buddhas tão numerosos quanto as areias do Ganges. Devemos estar sobremaneira contentes de termos obtido o manto e respeita-lo com todas as forças que possamos reunir, físicas ou mentais, apesar de o termos obtido através exclusivamente de nossos próprios esforços. Além disto devemos abertamente demonstrar nosso respeito reverente aos ancestrais que tão bondosamente nos transmitiram o manto, percebendo claramente a profundidade de nossa dívida para com eles. Sabe-se hoje em dia que até mesmo animais são capazes de mostrar este sentimento de gratidão, então como poderiam seres humanos se esquecerem da bondade que lhes foi feita? Se não estivermos conscientes disto seremos inferiores mesmo aos animais.

As únicas pessoas que perceberam completamente o mérito do Caminho bem como do manto são aqueles ancestrais que nos transmitiram e a todos os seres também, aqueles verdadeiros ensinamentos do Buddha. Se a pessoa quiser seguir em suas pegadas, deve se dedicar a totalidade de seu ser à pesquisa da transmissão do Dharma. A transmissão do Caminho desta forma deve ser considerada como uma transmissão da Verdade, mesmo a dez mil anos daqui, no futuro. Assim é o ensinamento do Buddha. Esta transmissão não deve ser pensada como algo de segunda mão, como o leite diluído na água. Muito pelo contrário, isto é como o príncipe herdeiro ascendendo ao trono de seu pai. Se, quando quisermos leite, somente puder ser encontrado aquele tipo misturado com água, então neste caso devemos consumi-lo. Contudo, nenhuma outra substância tal como óleo, laca, ou vinho deve estar misturada ao leite. Assim é a transmissão correta. Apesar de se poder estar praticando com um mestre qualquer sem nada de especial em sua pessoa, se aquela pessoa foi o recipiente do Dharma correta, isto é então a ocasião de se consumir o leite apesar de se encontrar diluído na água. Tanto mais isto será o caso se se tratar daquela transmissão correta feita pelos buddhas e ancestrais, isto seria então, sem tirar nem pôr o príncipe herdeiro subindo ao trono. Mesmo no mundo leigo aquele que ascende ao trono afirma: "Vou utilizar somente as roupas de um rei, exatamente como o rei anterior o fazia." Como podem aqueles engajados no estudo e prática de encontrarem consigo mesmos utilizarem outra coisa que não seja o manto do Buddha?

Desde o ano de 67 no reino de Hsiao-ming da dinastia Han posterior, houve muitos monges e leigos que viajaram da China para a Índia e retornaram. Nenhum deles contudo, afirmou cabalmente que tivesse se encontrado na Índia com um ancestral que possuísse o Caminho corretamente transmitido. Nem reivindicaram para si a transmissão que regredisse até o Tathagata. Apenas trouxeram de volta consigo vários sutras sânscritos que lá estudaram com eruditos. Exatamente por isto foi que nunca mencionaram quaisquer ancestrais que possuíssem o manto de Buddha. Logo, nem em seus sonhos mais remotos jamais sondaram as profundezas do buddhismo. conseqüentemente foram incapazes de dominar o verdadeiro significado do Caminho transmitido pelos buddhas e ancestrais. 

Quando o Buddha legou a Mahakashyapa a sabedoria Bodhi, também ao mesmo tempo lhe outorgou um manto que havia sido corretamente transmitido pelo Buddha Kashyapa. Este manto foi aquele que chegou incólume até Hui-neng de Ts'ao-ch'i. Além disto, instruções precisas no que diz respeito ao material, cor e tamanho do manto foram também transmitidas. Assim sendo, os praticantes de Ch'ing-yuan e Nan-yueh transmitiram em pessoa estas regras, fazendo e utilizando o manto justamente como o Buddha o havia determinado. A menos que a pessoa tenha percebido o âmago do buddhismo que os sucessivos ancestrais passaram, não é possível que saiba qual é o método indicado para se usar e para se lavar o manto.

Podem ser encontrados três tipos de mantos, feitos de cinco, sete, ou nove tiras de pano. Praticantes do Mahayana usam apenas estes três tipos e não buscam mais nenhum; estes são plenamente satisfatórios. 

O primeiro destes é usado na limpeza ou quando fazendo alguns tipos de trabalhos físicos, bem como quando se vai ao banheiro; o segundo ao se participar de cerimonias diversas; o terceiro ao se entrar nalgum palácio ou em alguma outra habitação humana. Durante a estação mais quente é suficiente utilizar o primeiro; contudo na época fria, adicione-se o segundo e no tempo insuportavelmente gelado o terceiro poderá ser também acoplado por cima.

No passado, em noites de inverno profundo, quando o frio era tão insuportável que estalava os bambus em seus nós, o Buddha se utilizaria de um manto de cinco tiras de tarde e lá pela meia noite acrescentaria um de sete tiras, e durante a parte mais fria da manhã, envergaria o de nove tiras por cima destes. Assim pensava o Buddha então: "Praticantes do futuro, podem usar estes três mantos para se aquecerem um bocado quando o frio estiver duro de aguentar."

Como se usa o manto

A forma mais costumeira de se usar um manto é de o jogar sobre o ombro, de tal forma que o ombro direito quede descoberto, cobrindo apenas o esquerdo. Existe contudo um outro método transmitido, utilizado pelo Tathagata e outros monges mais veteranos, no qual ambos ombros ficam cobertos. Neste último caso contudo, mesmo que os ombros fiquem cobertos, a parte superior do peito pode ou não estar exposta. Um manto de sessenta ou mais tiras é utilizado quando se cobre ambos ombros. Ao envergar o manto as duas partes do fim do manto devem estar uma sobre a outra no ombro e braço esquerdos. A parte que sobra no fim direito do manto deve ser colocada no ombro esquerdo e dependurada na parte de fora do braço esquerdo. No caso de ser um manto grande, a parte sobressalente do canto direito deve ser colocada por cima do ombro esquerdo e dependurada nas costas. Afora estes métodos existem vários outros para se usar o manto. Para que a pessoa possa se inteirar destes outros métodos é preciso praticar muito e um tempo maior, em geral, é necessário.

Durante um período de centenas de anos nas Dinastias Liang, Ch'en, Sui, T'ang e Sung muitos eruditos de todas as escolas buddhistas deixaram de lado a prática costumeira de expor teoricamente os sutras, porque perceberam a inutilidade disto, já que não era o Caminho. Além disto, largavam seus mantos incorretos e aos poucos os iam trocando por um manto correto. 

A Grande Lei do Buddha começou na Índia. A maior parte dos assim chamados mestres antigos e modernos, contudo, instruíam as pessoas baseadas nos estreitos pontos de vista das pessoas comuns. Originalmente contudo, já que o mundo comum e o de Buddha estão mais além de coisas limitadas ou ilimitadas, é completamente inacessível para a compreensão das pessoas comuns os ensinamentos de tanto o Mahayana quanto o Hinayana. Contudo, mesmo assim podemos encontrar na China aqueles que colocando o Dharma de lado, substituem a transmissão correta, que é o seu coração e âmago, por seus próprios pontos de vista estreitos e distorcidos do que vem a ser o Dharma. Estão por completo removidos do buddhismo. 

Portanto se alguém que possui a mente que busca o Caminho quiser envergar um manto, que seja aquele dos buddhas e ancestrais, e não um outro qualquer. Neste período de transmissão desde a Índia e China, não houve sequer um só ancestral que não tivesse usado este pedaço de roupa. O manto que recentemente apareceu na China, está, desnecessário dize-lo, muito removido do Caminho. Todos os monges que vieram da Índia usaram seus mantos de acordo com a transmissão correta. Nenhum deles usou jamais nenhum parecido com os da escola Vinaya. 

O mérito do manto é auto-evidente. Este manto sério foi preservado como uma herança, sendo que sua aparência ficou sendo a mesma de sempre. Todos estes ancestrais, desnecessário dizê-lo, foram discípulos a quem o Dharma foi corretamente transmitida. O manto que devemos adotar é portanto este, dos buddhas e ancestrais. 

Como fomos felizes o bastante para termos nascido nesta época em que a transmissão é conhecida, se usarmos esta transmissão nem que seja por um só minuto, isto certamente se tornará nossa própria carne e sangue como compreensão correta. Se tivermos confiança e penetrarmos uma só palavra do Buddha, ou um só verso do Poema do manto, isto será como um facho de luz no Caminho, nos ajudando a superar aquilo que parece ser insuperável. Isto também ocorre ao nos dedicarmos a uma só boa ação que seja, ou ensinamento. Apesar de ser uma límpida verdade que nosso corpo, mente e volição estejam num estado constante de nascimento e morte, ou seja, de mutação, o mérito resultante da prática do buddhismo trará inevitavelmente seus frutos. Um manto não é algo que seja nem confeccionado nem sem originação, não é nem algo de fixo, nem de fluído. É, isto sim, o âmago dos que fizeram do Dharma seu corpo. O mérito que praticantes adquirem com o manto eventualmente será bem compreendido. Aquele que não fez o bem em suas vidas anteriores não será capaz de alcançar, discernir, crer ou constatar o mérito do manto, mesmo no decorrer de uma ou mais vidas. Na China e no Japão alguns se encontraram com este manto, enquanto que outros não o fizeram. Isto nada tem a ver com o nascimento elevado ou humilde da pessoa, ou se ela é tola ou sábia. Isto é, muito pelo contrário, uma questão de se a pessoa fez o bem ou não em vidas prévias. 

Por isto aqueles com o manto devem se alegrar com o fato que fizeram o bem em outras encarnações. Por que duvidar deste mérito? Inútil seria. Aquele que ainda não obteve o manto deve, se quiser, rapidamente procurar fazer o bem nesta vida mesma, sem ligar para coisas que nada valem, como sua própria vida. Desta forma existe uma possibilidade que no futuro possa se deparar com um manto através do mérito desta ação. Se a pessoa ficar angustiada com esta questão, que recite o seguinte verso de todo coração, com fé total: "Ao constatar quão sinceramente as pessoas em outros países querem envergar o manto, para levar a cabo suas práticas, fico extremamente desejoso que o mesmo ocorra em meu país, como ocorreu na China, para que desta forma possa eu ter um contato pessoal com ele, o que seria uma felicidade indizível nesta vida." Que verdadeiramente lamentável seria se o Dharma bem como o manto, o símbolo do Dharma, não tivessem sido transmitidos corretamente em nosso país. Por que teremos tido a sorte de haver esta transmissão em nosso país? Deve-se sem a menor sombra de dúvida, ao mérito gerado ao nos esforçarmos em vidas passadas.

Hoje em dia, em plena era do buddhismo degenerado as pessoas não têm a menor vergonha de terem deixado de receber a transmissão dos buddhas. Que trágico o que se verifica: com isto perdem todo direito de reivindicar o que seja. Some-se a isto que também querem destruir aqueles que o fizeram. São pessoas assim que podemos encontrar nesta sujidade chamada mundo. Suas circunstâncias presentes não são o resultado do Bem, mas de suas más ações passadas. Que apenas tomem refúgio no Dharma corretamente transmitida, eis tudo!

Compreendamos nitidamente que o manto é aquilo em que todos os buddhas sem excessão se refugiaram, aquilo que mais reverenciavam. Por isto é conhecido também como o corpo do Buddha, mente de Buddha. Chama-se também manto da liberação, boa fortuna, manto sem forma, suprema alegria, superação e coragem, Tathagata, grande benevolência, vitória e a sabedoria Bodhi suprema. Já que é tudo isto, devemos recebê-lo reverentemente sem o alterar no menor detalhe que seja.

Os materiais permitidos para se confeccionar um manto são a seda e o algodão. O algodão não é necessariamente puro, nem é a seda impura. É muito engraçada esta ideia de se preferir a seda ao algodão. De acordo com os ensinamentos de nossos predecessores, um manto feito de roupa jogada fora, de roupa de segunda mão, é a melhor qualidade de roupa. Existem quatro ou dez deste tipo de roupas que são abandonadas após muito uso. Os quatro tipos de roupa que são abandonadas são:

  1. Aquela chamuscada pelo fogo;

  2. Ruminada pelo gado;

  3. Roída pelos ratos; ou

  4. Roupa usada como pano para enrolar cadáveres, como mortalha. Os hindus jogavam fora este tipo de roupa no esgoto. O nome "roupa descartada" provém justamente disto. Monges pegam este tipo de roupa e a usam após ter sido cuidadosamente lavada e costurada. Apesar de algumas peças desta roupa serem de seda e outras de algodão, não devemos discriminar entre elas. Que compreendamos o significado de "roupa descartada". Nos dias de outrora, quando Shrmanera Jana lavou sua "roupa descartada" na lagoa de Anavatapta, o Rei Dragão verteu uma chuva de flores preciosas em admiração.

Mestres do Hinayana dizem que roupa de seda é a melhor e superiora a roupa de algodão porque provem do bicho da seda. Mas aqueles que se dedicam ao Mahayana bem sabem o equívoco estrondoso de uma tal opinião. Os primeiros mencionados não estão conscientes que a seda é feita da excreção do bicho da seda, de onde é puxado o fio do casulo. Aderindo a seus pontos de vista preconcebidos, recusam-se a crer naquilo que está bem diante de seus olhos. Devemos perceber que entre a roupa que recolhemos algumas serão de seda e outras de algodão. Os tipos de roupas são tão variados quanto os locais de manufatura, de tal forma que é totalmente impossível determinar com precisão de onde vem tudo isto. Logo, ao catarmos este tipo de roupa pela estrada afora, não devemos discutir sobre sua origem: devemos simplesmente chama-la de "roupa descartada".

Apesar de seres humanos e celestes crescerem juntos com uma "roupa descartada", eles são uma "roupa descartada" e não seres comuns. Mesmo que pinheiros e crisântemos cresçam juntos com uma "roupa descartada", eles são "roupa descartada" e não seres comuns. Ao aceitarmos de todo coração uma "roupa descartada", que não é confeccionada de seda, nem de algodão, de ouro, prata, pérolas ou jóias, poderemos perceber o que vem a ser "roupa descartada". A menos que não discriminemos a seda do algodão, não temos a menor chance de compreender o que vem a ser "roupa descartada".

Um monge perguntou de certa feita a um mestre Zen, "Aquele manto que foi transmitido a Hui-neng à meia noite em Huang-mei, era ele tecido de algodão ou de seda?" Ao que o mestre retorquiu, "Nem de seda nem de algodão." Compreendamos que esta afirmação que um manto não é feito nem de seda nem de algodão é uma excelente demonstração do Caminho. 

O Venerável Sanavasa, era o terceiro ancestral hindu. Dizem que ele já havia nascido com um manto. Como leigo, este manto era o de um homem qualquer, mas depois de ter se tornado monge, virou um manto buddhista. Da mesma forma, a monja Sukla, cumprindo uma promessa, presenteou a Shakyamuni com um tapete. Devido a esta boa ação ela renasceu com um manto em cada existência posterior. Hoje, logo que entramos em contato com o Buddha Shakyamuni, a roupa ordinária que ganhamos quando nascemos logo se torna um manto puro, da mesma forma que ocorreu com Sanavasa. 

Deve estar ficando progressivamente mais evidente que um manto não é tecido nem de seda, nem de algodão nem de qualquer outro material. Da mesma forma, o mérito do Dharma se estende não apenas a nós mesmos, mas a todos os demais também. É o que acontece quando nos tornamos monges e recebemos os preceitos, mas por causa de nossa ignorância, não estamos cientes de tal. Devido a natureza cósmica dos ensinamentos do Buddha, não existe qualquer motivo para crer que este mérito seja propriedade exclusiva do monge Sanavasa ou de Sukla e deixe de se estender a nós também, de acordo com nossa capacidade.

Somente nossa prática assídua do Caminho pode plenamente esclarecer isto que foi dito acima. Dizem que um manto que não era confeccionado nem de seda nem de algodão tombou automaticamente nos ombros de Mahakashyapa quando este apareceu diante do Buddha Shakyamuni e recebeu os preceitos devidamente deste último. A forma que o Buddha nos ensina está mais além de nossa compreensão discriminatória. A jóia de beleza única que o Buddha colocou no manto, está de forma idêntica além da compreensão daqueles que estão apegados ao buddhismo comum.

Devemos cuidadosamente estudar se os tipos, cores e tamanhos dos vários mantos do Buddha são finitos ou infinitos, com forma ou sem forma. Isto é algo que todos os ancestrais estudaram e transmitiram corretamente. Talvez existam alguns que mesmo sabendo que a transmissão correta do manto é um fato incontroversível, mesmo assim não desejam que se os transmita um. Estas suas atitudes são imperdoáveis, devido exclusivamente às suas extremas tolices e falta de confiança. Desta forma abandonam eles a verdade pela falsidade e ficam confundindo os galhos das árvores com as raízes. Isto demonstra total e completo desrespeito e desprezo pelo Buddha, Dharma e Sangha.

Aqueles que despertaram para a mente Bodhi devem aceitar o manto que lhes foi corretamente transmitido pelos ancestrais. Não apenas nos foi possível entrar em contato com o Dharma, mas como descendentes dos ancestrais, que transmitiram o manto, fomos capazes nós também, ignorantes e fracos que somos, de receber um manto igualmente. Isto equivale a dizer que vimos o Buddha, ouvimos seus maravilhosos ensinamentos, nos banhamos em sua luz, temos a sua experiência, recebemos sua maneira única de considerar o mundo e ganhamos aquilo que o torna tão especial. Neste momento usamos um manto que a nós foi transmitido diretamente pelo Senhor Shakyamuni. Ou seja, abandonando nossa vontade pela do Buddha, reverentemente temos o seu manto.

De como se lava o manto

O manto deve ser desdobrado e esmeradamente colocado dentro de um tanque com água. Com água perfumada o mais quente possível, deve-se deixa-lo de molho durante mais ou menos duas horas. Um outro método é colocar o manto em água fervente com cinzas puras e esperar em seguida até que a água esfrie. No nosso país este segundo método é geralmente utilizado. Depois que a água quente resfriou e ficou transparente, deve-se esfregar bem o manto. Ao faze-lo, segure-o firmemente com ambas mãos, tendo o cuidado de não amassa-lo totalmente. Prossiga até a completa remoção de toda sujeira e mácula. Finalmente, enxague o manto em água fria com incensos preciosos. Depois de seca-lo num pedaço de bambu impecavelmente limpo, dobre-o, venerando-o com incenso e flores, circunde-o algumas vezes, sempre reverenciando, três, seis, ou nove vezes. Finalmente ajoelhado diante dele em gasshô, apanhe-o e recitando o poema do manto, de pé coloque o manto, como já foi ensinado. 

O Buddha disse a seus discípulos: "No passado, quando treinava sob o Buddha Dharmakara, me chamava-me Avalokiteshvara. Jurei então ao Buddha Dharmakara: 'Buddha Dharmakara! Suponha, por hipótese, que depois que tiver me estabelecido no estado de Buddha, alguém se torne um meu discípulo, entre na ordem dos monges e envergue o manto. Suponha, além disto que apesar de ser um monge, monja, leigo ou leiga, esta pessoa tenha algumas ignorâncias, como por exemplo, quebrar os preceitos, albergar pontos de vista distorcidos, ou zombar dos Três Tesouros devido a sua falta de prática, e contudo depois de algum tempo chegar a ser reverente para com o manto, o Buddha, o Dharma, e a Sangha. Se neste momento sua prática retrogredir por ser incapaz de estar seguro sobre o que significa sua prática, isto quer dizer que eu enganei os buddhas inumeráveis. Dharmakara! Se acaso alguém houver nesta situação, eu não desejo me tornar um Buddha.

'Suponha além disto que depois de ter alcançado um certo grau dentro da prática, eu veja algum ser celeste, dragão, demônio, ser divino ou seres humanos ou não humanos que venerando respeitosamente, elogie e admire aquele que usa um manto. Se ele receber seja um só pequeno pedaço de manto, ele não retrogradará em sua prática nos três veículos.

'Buddha Dharmakara! Suponha, tomando um exemplo, que hajam pessoas sofrendo com fome, sede, demônios empobrecidos e deidades na miséria. Se qualquer destes obtiver seja uma só tira de manto, suas sedes e fomes serão saciadas e seus desejos rapidamente realizados. 

'E aqueles que sentem raiva e ressentimento, querendo chegar às vias de fato e à agressão. Sejam eles seres celestes, dragões, demônios, divindades, gandharvas, asuras, garudas, kimnaras, mahoragas, kumbhandas, pisacas ou mesmo seres humanos ou não humanos, se quaisquer destes variegados seres se lembrarem do manto, sua virtude fará com que aos poucos suas mentes fiquem límpidas, puras e compassivas, plenamente controladas. Assim eles serão aliviados daquilo que os afligiam.

'Alguns desejam logo recorrer a métodos violentos, como luta armada e coisas afim. Se usarem nem que seja um pequeno pedaço de manto que tenham venerado respeitosamente, serão protegidos de tal forma que outros serão completamente incapazes de lhes tocar um só fio de cabelo. Assim poderão eles superar qualquer dificuldade, não importa qual seja o tipo.

'Ó Buddha Dharmakara! Se meu manto não possuir esta força intrínseca, isto quer dizer que de alguma forma deixei de cumprir minhas obrigações para com os buddhas inumeráveis de todo mundo. Neste caso, renuncio a no futuro realizar a bodhichitta suprema para salvar aos demais. Assim, a verdadeiro Dharma se perderá e se tornará impossível de aniquilar os ensinamentos e pontos de vista errôneos.'

"Homens virtuosos! Em seguida a isto o Buddha Dharmakara me afagou a cabeça com seu braço de tonalidade dourada e me disse o seguinte: 'Muito bem falado! Bem falado! Tuas palavras são como um grande tesouro benigno, cheias de sabedoria e de virtude incomensuráveis. Realizaste a sabedoria que á a iluminação. Teu manto agora possui as cinco forças superiores e é capaz de provocar transformações em outros.'

"Ó vós, que estão por vir! Quando ouvi as palavras de Dharmakara, me enchi de uma alegria tão grande como nunca dantes havia sentido. A mão de seu braço dourado que me afagava a cabeça era tão cálida quanto um manto celeste, seus dedos finos e ao mesmo tempo fortes. Depois que fui elogiado com o toque na cabeça, virei um moço na força da idade.

"Ó vós que estão por vir! Todos aqueles que se achavam presentes então, seres celestes, humanos e não humanos, etc., me reverenciaram continuamente com flores e músicas. Depois de terem assim agido, se recolheram novamente ao silêncio."

Seja pois bem compreendido que estes cinco méritos anteriores se constituem no âmago do manto, como exposto nos sutras e nos preceitos. Isto vale tanto para agora quanto naquela época em que vivia o Buddha. Este manto, de méritos incomensuráveis, é a roupa dos inumeráveis buddhas nos três estágios do tempo. Ter recebido um manto de Shakyamuni é mais significativo que com demais buddhas! Isto porque, quando fez estas solenes quinhentas promessas diante do Buddha Dharmakara quando ainda era Avalokiteshvara, ele ajuntou a estas, promessas essencialíssimas sobre o manto especificamente. Que inimagináveis e supremos são então seus méritos!

A essência do Bhagavan foi transmitida através do manto até o tempo presente. Aqueles ancestrais que transmitiram corretamente o Dharma Suprema da Iluminação passaram este manto como seus símbolos. Aqueles que mantiveram este manto nunca deixaram de ganhar a iluminação em poucas vidas. Até mesmo se a pessoa o colocar no começo como uma mera piada, e para se aproveitar disto, isto tudo contribuirá para finalmente se ganhar a iluminação.

O Monge Nagarjuna contava a seguinte história, "Tomemos um caso em que um monge acabe descarrilando e infringindo os preceitos, ele pode ainda alcançar a iluminação depois de devidamente se recuperar e pagar por seus deslizes. Quanto a isto, temos no Utpalavarna-jataka Sutra uma história que bem ilustra isto: É a história de uma monja chamada Utpalavarna que viveu no tempo de Shakyamuni. Esta monja de vez em quando visitava as casas de pessoas nobres e ricas. Nestes momentos recomendava a entrada de todos na ordem de monges dizendo: 'Tornem-se monjas!' Elas responderiam, 'Mas somos todas jovens e belas. Tememos que seja sobremaneira difícil observar os preceitos. E se acabássemos quebrando-os, que dirias tu então?' 'Que os quebrem pois,' responderia Utpalavarna, 'mas até mesmo assim seria bom que tomassem os preceitos de monjas.' 'Mas se os quebrarmos' diriam as nobres senhoras, 'seremos castigadas por aquilo que fizemos. Como poderíamos possivelmente quebrar os preceitos?' 'Se é assim, quebrem-nos e entrem no inferno por causa disto,' concluiu a monja. Rindo muito dela as moças disseram, 'Como poderíamos ir para o inferno, quando uma vez lá, seríamos punidas?' 

Falando do surrão de sua própria experiência, a monja replicou, 'Em minha encarnação anterior, eu era uma prostituta, e me vestia e agia como tal, falando palavrões e super-maliciosa. Uma vez, de brincadeira, coloquei a roupa de uma monja. Devido a esta ação meritória, renasci na época do Buddha Kashyapa. Contudo meus problemas aí não terminaram. Devido ao meu nascimento na casta nobre e minha grande beleza física, acabei ficando orgulhosa e daí em diante quebrei todos os preceitos possíveis, em consequência do que fui parar no inferno. Depois de ter me redimido, renasci uma vez mais no mundo humano, onde me encontrei com Shakyamuni e mais uma vez juntei-me à comunidade de monges. Por causa disto, me tornei uma Arhat, e ganhei os seis poderes para salvar seres sensíveis. Portanto, de minha própria experiência, sei que mesmo que quebremos os preceitos, depois que nos tornarmos monjas seremos capazes mesmo assim de chegarmos ao estado sublime de Arhat. Por outro lado, se fizermos o mal sem nos termos tornado monges, jamais chegaremos ao Caminho. No passado, cai no estado de inferno durante duas gerações seguidas devido a minhas torpes ações. É por isto que eu estou tão segura que mesmo que quebremos os preceitos, sendo monjas, com isto ainda assim chegaremos à iluminação'."

Foi o mérito de ter usado um Kesa, da Bhikshuni Utpalavarna, apesar de no começo nada passar além de uma pilhéria, que deitou a pedra fundamental para no fim ela se tornar uma Arhat. Em sua existência seguinte ela foi capaz de conhecer Kashyapa e se tornar uma monja. Finalmente em sua terceira encarnação consecutiva se encontrou com Shakyamuni e se tornou uma formidável Arhat, agraciada com as três sabedorias além dos seis poderes mágicos para salvar os demais seres. As três sabedorias são:

  1. Olhos que tudo vêem;

  2. Relembrança de vidas anteriores;

  3. Plena e total liberdade.

Os seis poderes são os seguintes:

  1. Atividade desimpedida;

  2. Omnisciente visão;

  3. Ouvidos que tudo ouvem;

  4. Penetração naquilo que outros seres estão sentindo;

  5. Lembrança das existências prévias; e

  6. Liberdade ampla, completa e irrestrita.

Quando Utpalavarna era somente uma pessoa comum, ignorantemente infringindo o Dharma do universo, morreu estupidamente e tombou no inferno e tendo renascido de novo repetiu a encarnação prévia. Após ter recebido os preceitos, contudo, apesar de tê-los quebrado posteriormente, ela eventualmente se iluminou. Já que ela foi capaz de se iluminar depois de três existências, apesar de no princípio tudo não ter passado de uma risada, será que aquele que abriga um manto com um coração puro e determinado, procurando pela mais elevada realização deixe de fazer o mesmo? Que imenso não seria o mérito da pessoa se usasse o manto recebido neste espírito durante toda sua vida!

Aqueles que tiveram a felicidade de despertar para a mente que busca o Caminho devem rapidamente utilizar e envergar o manto. Tendo tido a grande oportunidade de obter o nascimento humano, uma coisa extremamente difícil de ser obtida, que lamentabilíssimo não seria se deixássemos de lançar as sementes de nosso viver em Buddha. Agora que estamos revestindo esta existência humana, que grande tolice seria desperdiçar futilmente a vida, quando nos vemos cara a cara com a luz do Caminho.

Os legítimos herdeiros são aqueles que tiveram transmitidos a si o manto pelos outros legítimos e confirmados herdeiros. Aqueles que não possuem este tipo de transmissão correta, jamais poderiam estar em pé de igualdade com os que o fizeram. Contudo mesmo ter recebido um manto ilegítimo não representa pouco mérito, que se dirá então do manto corretamente transmitido desde um verdadeiro e nobre mestre. Uma tal pessoa seria, realmente, o filho de Buddha e teria a mesma essência que ele. Este manto foi transmitido corretamente por buddhas, bodhisattvas, shravakas e pratyekabuddhas nos três estágios do tempo no mundo inteiro.

Um manto é confeccionado de pano tosco de algodão. Quando não for possível se obter tal qualidade de pano, que se utilize algodão mais fino e caro. Quando nem um nem outro puderem ser obtidos, a seda fina estampada é permissível, em última hipótese.

São estes pois, os elementos aprovados para se confeccionar o manto. Nos países que estes materiais não puderem ser achados, contudo, também o couro foi incluído como material legítimo alternativo.

O manto pode ser tingido de vermelho claro, amarelo, azul, preto ou púrpura, em geral em tons opacos. O Buddha usava sempre um manto vermelho opaco. O manto passado por Bodhidharma era preto-azulado, feito de grandes tiras de bom pano hindu. Este manto, passado por todos os ancestrais na Índia e na China, agora se encontra no templo do Monte Ts'ao-ch'i, como um tesouro nacional da China. Todos os discípulos de Hui-neng transmitiram e passaram adiante esta linhagem de manto.

As três opções possíveis para mantos são as seguintes:

  1. Roupa jogada fora como imprestável;

  2. Roupa feita de peles de animais;

  3. Feita de roupa desgastada pelo tempo e pelo uso.

O primeiro tipo já foi explicado anteriormente. O segundo é feito de penas de pássaros e demais alados e de peles de animais. Se praticantes não puderem obter um manto do primeiro tipo, podem conseguir um do segundo tipo. O terceiro tipo é roupa rôta, recosturada e cerzida. Monges devem evitar usar mantos de materiais valorizados pela sociedade mundana.

O Venerável Upali perguntou ao Buddha, "Quantos tipos de manto Samghati podem ser achados?"

O Buddha replicou, "Nove."

"Quais são estes nove tipos?"

"São mantos de respectivamente nove, onze, treze, quinze, dezessete, dezenove, vinte e um, vinte e três, e vinte e cinco tiras de pano. Ao confeccionar os três primeiros tipos, lembrem-se que cada tira se constitui de duas peças compridas e uma curta. Ao fazer os três tipos seguintes, cada tira é de três pedaços de pano compridos e um curto. Já no caso dos três derradeiros, se fazem de quatro pedaços compridos e um curto. mantos de mais de vinte e cinco tiras são completamente proibidos."

Upali perguntou então ao Buddha, "Em que tamanhos este tipo de manto vem?"

O Venerável, respondendo disse: "São três os tamanhos: grande, médio e pequeno. O de tamanho maior é de centro e trinta e cinco centímetros de comprimento e duzentos e vinte e cinco centímetros  de largura. O menor mede centro e treze centímetros de comprimento por duzentos e três centímetros de largura. O médio está entre os dois citados acima."

Upali indagou ainda: "Senhor! Quais são os tipos de manto Uttarasamgha?"

Buddha disse, "Somente um, de sete tiras de pano. Cada tira de duas peças compridas e uma curta."

Upali perguntou finalmente, "Quais os tipos de manto de sete peças?"

O Buddha disse: "Três são os tipos acháveis: médio, grande e pequeno. O grande é confeccionado em centro e trinta e cinco centímetros de comprimento por duzentos e vinte e cinco de largura. O menor, quarenta e cinco centímetros menor que o maior, tanto no tamanho quanto na largura. O médio pode ser encontrado se tomando a média matemática entre estes dois."

Upali, em conclusão falou: "E o número de tiras de pano do Antarvasa?"

Buddha respondeu, "Cinco. Cada tira é feita de um pedaço comprido e um curto."

Upali perguntou: "Podes agora me dizer os tamanhos do Antarvasa?"

Buddha disse, "São três os tipos: grande, médio e pequeno. O grande mede centro e trinta e cinco centímetros por duzentos e vinte e cinco centímetros. O médio e o menor são idênticos aos de sete tiras. Porém aqui existe um detalhe, pois outros dois tipos de Antarvasa podem ser obtidos. Um deles mede noventa centímetros por duzentos e vinte e cinco centímetros. E o outro, noventa centímetros por cento e oitenta centímetros."

O manto Samghati é conhecido também como um manto duplo. O Uttarasamgha como um manto externo e o Antarvasa como interno. Samghati, o grande manto, é colocado quando entramos no palácio real ou passamos instrução a alguém sobre o buddhismo. Quando em companhia de outros monges praticantes, geralmente podemos utilizar um Uttarasamgha. E para a prática usamos o Antarvasa. Estes três tipos de mantos devem ser protegidos e preservados contra tudo. Existe também um grande manto de sessenta tiras de pano, que também deve ser cuidado da mesma forma.

Dizem que no passado os homens chegavam aos oitenta mil anos de idade, assim como hoje em dia a idade média de um ser humano é de oitenta anos. Alguns crêem que o tamanho do corpo humano foi alterado com isto, outros acham que isto não vem ao caso. Esta última é a transmissão correta. Existe também uma terrível diferença entre o corpo do homem e aquele do Buddha. Ao corpo do homem se pode aplicar todo tipo de medidas, tais como comprimento, largura, etc. Enquanto que ao do Buddha, estas medidas e modalidades não podem ser aplicadas. Por isto o manto de Kashyapa dava exatamente, como uma luva, em Shakyamuni, sem tirar nem por nada. Da mesma forma o manto de Shakyamuni não ficará nem grande nem pequeno para Maitreya. Devemos compreender que o corpo do Buddha está muito além das dimensões normais. 

Apesar de o Rei Brahma estar vivendo no mundo da forma, ele não enxerga o topo da cabeça do Buddha. O venerável Maudgalyayana viajou até distantes outros mundos, mas ainda assim ouvia distintamente a voz de Buddha. Isto não pode ser explicável por nossa experiência normal, sensitiva.

Existem quatro formas corretas de se fazer um manto, dependendo de como se faça a costura. São estes: costurar pequenos pedaços de pano pré-cortados; costurar pedaços maiores de pano não-cortados; sendo que os terceiro e quarto métodos dizem respeito a como se deve segurar a dobra do pano quando se cerze. A verdade é que devemos utilizar qualquer manto com que tenhamos a sorte de nos deparar. O Buddha disse, "O manto de todos os buddhas deve ser confeccionado pelo método do pesponto."

O pano puro e limpo é o melhor material para tecer o manto. É um consenso da maioria dos buddhas que a "roupa descartada" dá o melhor manto e o mais útil. Além disto, mantos doados por doadores carinhosos, ou adquiridos com suas oferendas, também são considerados puros e limpos. Apesar de existirem também, regras explícitas quanto ao tempo que deve ser gasto na confecção do manto, já que vivemos na era do buddhismo degenerado, longe da origem de nossa fé, a Índia, devemos simplesmente usar um manto costurado de fé pura e entrega total.

É o maior segredo do Mahayana que tanto seres celestes como leigos conseguiram possuir e preservar o manto. Tanto o rei Brahma como Sakrendra usavam o manto todo dia. Estes são exemplos maravilhosos de seres que viviam no mundo do desejo e da forma. No mundo humano tais instâncias são incontáveis, pois é sabido que todos os bodhisattvas leigos utilizavam religiosamente o manto. Na China, o Imperador Wu da dinastia Liang e Yang da Sui também tinham um manto. Tai-tsung e Su-tsung, que tiveram mestres buddhistas, receberam igualmente os preceitos para bodhisattvas.

No Japão, o Príncipe Shotoku usou um manto e também deu palestras sobre o Sutra do Lótus e o Shrimala Sutra. Durante a sua pregação, ele sentia como se anjos celestes estivessem fazendo chover flores preciosas sobre sua cabeça. Depois disto foi que o buddhismo se espalhou por todo o país. O Príncipe Shotoku não foi simplesmente o regente do governo, mas se tornou também o mestre de todas as criaturas nos mundos celestes e humanos e o pai de todos os seres viventes. No nosso país, apesar do tamanho, cor e materiais utilizados para se fazer o manto estarem completamente equivocados, ainda assim só o fato de podermos ouvir falar do manto se deve totalmente aos esforços deste Príncipe. Em que posição estaríamos hoje, se naquele momento ele não tivesse rejeitado a falsidade e estabelecido a verdade! Subsequentemente o Imperador Shomu usou também um manto e recebeu os preceitos do bodhisattva. Logo, não importa se somos súditos ou Imperadores, devemos urgentemente usar o manto e receber os preceitos. Não existe maior felicidade humana que esta. 

Alguém já afirmou: "O manto que leigos usam é chamado um manto de ponto único ou comum. Este nome provem de que o pesponto não é geralmente usado em sua manufatura. Além disto, quando leigos vão ao mosteiro para praticar devem levar consigo os três tipos de manto, uma escova de dentes, creme dental, tigelas e demais utensílios para comer, e um pano no qual se possam sentar, da mesma forma que monges o fazem." Apesar de muitos mestres terem ensinado o acima, a verdadeira e direta transmissão sustenta que os mantos de Reis, ministros, monges-leigos, guerreiros e pessoas comuns todos utilizaram o pesponto. Hui-neng é um dos melhores exemplos dos que transmitiram com correção o manto do Buddha. 

O manto implicitamente diz que somos discípulos fiéis de Buddha. Se tivermos a boa sorte de receber um manto, devemos venera-lo a todo dia que passa. Antes de o desdobrarmos para o vestir, vamos colocá-lo na cabeça e com um gasshô, cantemos o seguinte:

Que maravilhoso este manto da libertação!
Como um campo que dá todo tipo de felicidade.
Agora desdobramos o que o Buddha transmitiu, 
Para que todos os seres fiquem felizes.

Após a recitação deste poema, o manto é colocado. O manto deve ser venerado como se fosse o mestre mesmo da pessoa, ou uma stupa do Buddha. O poema anterior deve também ser cantado quando reverenciando um manto recém lavado.

Foi Buddha quem disse o seguinte: "Se a pessoa raspa a cabeça e coloca um manto será reverenciado por todos os seres celestes." Disto deduzimos que quando raspamos a cabeça e colocamos o manto seremos protegidos por todos os buddhas. Através deste mérito depreendemos o mérito da sabedoria Bodhi suprema, sendo venerados por seres celestes bem como humanos.

O Bhagavat contou de certa feita ao monge Jnanaprabha: "O manto tem os seguintes méritos e capacidades:

  1. "Cobre nosso corpo, eliminando nossa vergonha de ficarmos nus, e isto dá origem a sentimentos de pureza, e nos impele ao bem.

  2. "Ele nos protege do frio bem como do calor, impede que sejamos mordidos por mosquitos e outros animais venenosos, para que tenhamos tranquilidade ao praticar.

  3. "Nos dá a forma de monges, que quando aparecem encantam a todos e os alivia de suas mentes egoístas.

  4. "É um sinal precioso para seres humanos e celestes. Venerando respeitosamente este manto, renasceremos certamente como o Rei Brahma.

  5. "Elimina os enganos de todos os seres e lhes confere a felicidade ilimitada, pois quando o envergamos o percebemos como um excelente símbolo do Caminho.

  6. "Nos resguarda de cairmos nos cinco desejos bem como de desejarmos status e lucro, porque o tingimos de tonalidades mais para opacas que brilhantes.

  7. "Troca a ilusão por felicidade porque se trata do manto de Buddha.

  8. "Elimina nossas ações equivocadas do passado e nos conduz a realizar os dez tipos de bem a cada momento em que usarmos o manto.

  9. "Enche de força o Caminho do bodhisattva, pois é como um campo fértil.

  10. "Nos protege da ignorância, pois é como um escudo de aço.

"Jnanaprabha! Veja então que quando buddhas, pratyekabuddhas, shravakas e monges puros nos três estágios do tempo usam o manto, todos eles sentam no mesmo assento supremo da libertação, desembainham a mesma espada da sabedoria e derrotando amplamente todo o exército de demônios, entram juntos no mesmo nirvana."

O Bhagavan recitou além disto o seguinte verso:

Jnanaprabha, ouça o que vou lhe dizer atentamente!
O manto tem dez méritos inigualáveis.
A roupa comum aumenta nosso desejo, 
Mas o manto do Tathagata não o faz.
Faz, ao contrário com que não nos envergonhemos, 
Fazendo com que nos empenhemos mais e trazendo felicidades e méritos;
Nos protege do frio, do calor e de insetos venenosos.
Nos dá a mente Bodhi, nos conduzindo à iluminação.
Nos dando a aparência de monges e nos livrando da cobiça.
Elimina os cinco pontos de vista errôneos e promove a prática pura.
Ao respeitarmos através de nossa veneração o manto que é como uma flâmula desfraldada, 
O Rei Brahma nos dá seu selo real de aprovação e admiração.
Desenrole o manto, pois, Jnanaprabha, como se fosse um monumento,
Pois dá sorte, elimina os eventuais equívocos, e salva aos seres humanos bem com aos celestes.
Um monge é bem organizado e respeitoso,
E isto porque suas ações não estão sujeitas à ilusão mundana,
Todos os buddhas o elogiaram como um campo fértil, 
A melhor das melhores coisas que dão felicidade aos demais.
O manto é agraciado com poder miraculoso
pois conduz ao plantio da prática Bodhi.
Faz crescer o broto do buddhismo como uma planta na força da primavera, 
E o resultado final disto é a iluminação.
Uma sólida armadura nos protege 
Contra as flechas venenosas da ilusão.

E o Buddha prosseguiu, versificando livremente:

Acabei de explicar os dez excelentes benefícios de um manto, 
Apesar de ainda ter muito a dizer sobre o assunto.
Se um dragão obtiver nem que seja um só fio de um manto, 
Não será por certo devorado por outros bichos que se alimentam de dragões.
Se, ao cruzar os sete mares, a pessoa usar um manto,
Não precisa temer monstros marinhos, 
Quando o raio fulminar a terra, 
Aquele que usa o manto não precisa se atemorizar. 
Se leigos preservarem respeitosamente o manto,
Não haverão demônios que se atrevam a lhes perturbar.
Quando alguém, despertando para a bodhichitta, 
Deixar o mundo comum e praticar o Caminho, 
Todos os malignos do mundo inteiro tomam nota do fato, 
E aquela pessoa rapidamente atravessa para a outra margem da iluminação.

Os vários méritos do Caminho estão contidos nestas dez maravilhosas virtudes que se pode ganhar com o uso do manto. Estudemos pois tais grandes méritos, que foram explicados e detalhados no sutra que se precedeu bem como nos versos. Não devemos contudo lê-los rapidamente e depois passarmos para o estudo de um outro assunto qualquer. Ao invés devemos analizá-los com todo cuidado. Estes ótimos benefícios são os atributos mesmos do manto; não são o resultado de um extenso e penoso treinamento de monges. O Buddha mesmo afirmou: "O poder do manto está mais além da compreensão intelectual." Isto é válido quer a pessoa seja um ser comum ou um bodhisattva. Para realizar rápido a iluminação devemos utilizar um manto.

Aquele tipo de roupa que foi jogada fora, como já foi dito acima, é o material mais limpo e puro que existe para se fazer o manto. Seu mérito já foi descrito nos sutras, Shingi, e tratados Mahayanistas e Hinayanistas. Para maiores informações, bem como para saber que outro tipo de material pode ser utilizável para a confecção de um manto, que se consulte aqueles bem versados no buddhismo. Tudo isto foi esclarecido e transmitido corretamente apenas pelo buddhas e ancestrais.

O Madhyamagama Sutra afirma: "Ó vós que sois estáveis na verdade! Suponde por exemplo que exista uma pessoa que aja com pureza, mas fale e pense contaminadamente. Se um sábio vir isto e ficar zangado, deverá se livrar da cólera. Suponde por outra que alguém aja contaminadamente, mas fale e pense com pureza. Se um sábio vir isto e ficar zangado, deve tratar de compreender a situação e eliminar a sua zanga. Como pode chegar a realizar isto? Ó vós que sois determinados, ouçais! Ele realizará isto seguindo firme nas pegadas daquele monge solitário que pega para si roupa desdenhada pelo mundo para com isto tecer seu manto. Como tal monge, ele se depara com roupa suja de excremento, urina, muco nasal, ou qualquer outra secreção humana e em seguida, pegando-a com seu braço esquerdo, com a destra rasga e tira fora aquelas partes ditas irrecuperáveis da roupa, ficando apenas com a parte aproveitável.

"Ouçais agora, vós que sois estáveis na verdade! Ao nos encontrarmos com aquela pessoa mencionada acima que aja impuramente mas fale e pense puramente, não devemos ver aquilo que é feio; devemos ao contrário considerar aquela parte forte, pura e elevada em seu discurso e pensamento. Se o sábio vir esta pessoa e ficar zangado, que elimine desta forma sua cólera."

Este precisamente é o Caminho de um monge solitário que pega roupa jogada fora para com isto tecer seu manto de "roupa descartada." Ao apanharmos tal roupa, devemos em primeiro lugar escolher as partes sem furos, e em seguida as laváveis. Não se deve utilizar aquelas partes irremediavelmente manchadas de cocô e xixi.

Os dez tipos de roupa jogada fora são as seguintes, a saber:

  1. Mastigadas e ruminadas por bois e vacas;

  2. Roídas por ratazanas;

  3. Chamuscadas pelas labaredas do fogo;

  4. Conspurcada pelo sangue de menstruação;

  5. Sujas de sangue de parto;

  6. Descartada em templos e lugares de devoção;

  7. Roupa jogada fora no cemitério;

  8. Dada como um presente puro;

  9. Desperdiçada por funcionários governamentais;

  10. Roupa usada para mortalhas fúnebres.

São estes os tipos de roupas que as pessoas em geral jogam fora depois de have-las usado. Depois de lavadas são contudo aquilo que de melhor há para se fazer um manto. Todos os buddhas nos três estágios usavam apenas este tipo de roupa. Portanto, a "roupa descartada" foi cuidadosamente preservada e cuidada por tanto seres celestes quanto humanos, bem como dragões e assim por diante. Devemos positivamente apanhar esta roupa para confeccionar o manto. 

Que verdadeiramente lastimável que nos dias que se vão aqui no Japão, ínfimo país de periferia, não sejamos sequer capazes de encontrar tais materiais puros e limpíssimos para fazermos o manto, não importa o quanto tentemos! Portanto, utilizemos tão somente aqueles materiais dados por pessoas bondosas ou seres humanos e celestes comuns. O dinheiro obtido trabalhando duro e honestamente pode também ser utilizado para comprar o material para um manto. Os materiais assim obtidos não podem de forma alguma ser chamados de seda, algodão, ouro, prata, pérolas, seda lavrada, seda fina, brocado ou bordado. São simplesmente roupa descartada. Um manto feito de tal roupa não é um "roupa descartada" devido a sua aparência, seja esta rôta ou bela. Este nome lhe foi dado somente porque está de acordo com o Dharma, tendo sido transmitida de forma correta a essência dos buddhas nos três estágios do tempo, junto com suas iluminações. Se quisermos analisar um pouco mais seus méritos insondáveis, que busquemos para tal a ajuda dos buddhas e ancestrais, não de seres humanos e celestes.

Apêndice

Quando eu me encontrava na China da Dinastia Sung, no fim da plataforma elevada, notei que cada manhã no fim do zazen o monge ao meu lado apanhava seu manto, o colocava na cabeça e fazendo um gasshô, recitava o seguinte: 

Que maravilhoso é este manto!
Como um campo que dá todo tipo de felicidade.
Agora desdobramos aquilo que o Buddha transmitiu,
Para que todos os seres fiquem felizes.

Ao ouvir isto, me enchi da maior emoção e alegria que jamais havia experimentado em minha vida. Sem querer verti lágrimas de gratidão, e meu colarinho se umedeceu. Por quê? Apesar de ter lido o Agama Sutra antes e ter notado ali este verso, não sabia como era feito, em todos os detalhes. Vendo isto ante meus próprios olhos naquele momento me encheu de alegria. Disse então para mim mesmo, "Ora vejam só, quando estava no Japão, meus mestres jamais me ensinaram isto, nem haviam bons amigos que me tivessem mostrado esta prática. Quanto tempo, lamento dizer, desperdicei em vão. Que feliz estou agora, já que devido às minhas boas ações no passado, fui capaz de chegar a constatar isto. Se tivesse ficado no Japão, como poderia ter disto me inteirado, isto é, de como o monge sentado ao meu lado praticava usando o manto do Buddha?" Cheio destes sentimentos misturados de alegria e tristeza, chorei copiosamente. Prometi então a mim mesmo, "Me tornarei, apesar de indigno de tal, um herdeiro correto do buddhismo, um recipiente da prática buddhista, e transmitirei o Dharma a meus concidadãos, que me foi corretamente transmitida junto com o manto."

Esta promessa não foi, fico feliz em dize-lo, em vão, pois muitos leigos e monges usam hoje o manto. Aqueles que receberam o manto devem venera-lo sempre. Ao fazer tal, adquirem o mérito mais elevado. Não é muito difícil de ouvir uma palavra ou verso do Dharma, pois até as pedras e árvores o manifestam constantemente. Não importa onde formos, contudo, é muito difícil de encontrar o mérito do manto que foi corretamente transmitido.

Em outubro de 1224, dois monges coreanos, Chi Hyun e Kyung Oon, foram a Chingyuan-fu na China Sung. Apesar de darem palestras constantemente sobre os sutras, eram apenas eruditos. Suas aparências não diferiam daquelas de pessoas comuns, pois que não tinham nem um manto nem tigelas. Que trágico é ser um monge apenas aparentemente e não ter a essência de um monge. Isto se deve quem sabe ao fato de pertencerem a um pequeno país periférico. Quando monges japoneses vão a outros países, se parecem muito com estes dois camaradas. 

O Buddha venerou respeitosamente o seu manto durante doze anos. Nós, que somos seus seguidores devotados, devemos nos aplicar ao estudo de tal fato. Não devemos jamais venerar o céu, divindades, Reis ou ministros para obter através disto a fama ou o lucro, pois que nada nos dará felicidade maior que venerar o manto buddhista.

Capítulo 82 do Shôbôgenzô de Dôgen Zenji (1200-1253).
Adaptado da tradução do monge Ryokyu Marcos Beltrão.


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